Artigo: Plano Diretor: Caruaru enxerga seu futuro?

Opinião
Publicado por Américo Rodrigo
3 de outubro de 2019 às 08h20min
Foto: Divulgação

Administrar sem planejamento é caminhar no escuro, sem direção. Planejar faz parte da necessidade de quem vislumbra um futuro próspero e de resultados positivos. Transferir para o papel todas as ideias, materializá-las através dos objetivos e como alcançá-las através das metas é a tarefa daqueles que buscam um caminho eficaz na Administração (pública ou privada). Na esfera pública os desafios são diferentes dos encontrados na iniciativa privada, o primeiro deles é adequar um bom planejamento as dificuldades financeiras dos municípios e as necessidades reais dos cidadãos, identificada por meio dos gargalos da realidade local, revelados pelos dados sociais e econômicos e também pelas demandas comuns dos próprios munícipes. É correto afirmar, portanto, que a cidade que não planeja seu desenvolvimento, não consegue por conseguinte enxerga seu futuro. Caruaru enxerga seu futuro?

Falar sobre Caruaru requer imensa responsabilidade, pois não estamos tratando de um “simples município”, estamos falando sobre uma cidade muito importante para o cenário econômico regional. Comandar os destinos de uma cidade com as características da nossa, não é uma missão fácil para nenhum gestor. Governar Caruaru é governar a maior cidade do interior de Pernambuco, um dos centros econômicos mais importantes do interior do Nordeste. 5º maior economia de Pernambuco e a maior fora da Região Metropolitana do Recife. São 920,610 km² de extensão territorial. 361.118 habitantes, segundo o IBGE. Além de uma população flutuante que, segundo dados publicados na 23º edição(2013) da Revista Negócios PE, chega a 198 mil pessoas semanalmente. São pessoas que dirigem-se a Capital do Agreste para negociar e utilizar os serviços educacionais e médicos. Além dessas particularidades econômicas, o que torna nossa cidade líder de uma região incontestavelmente, o turismo também é visto com atenção em todo território nacional. Apenas no período junino, mais de R$ 200 milhões movimentam nossa economia, gerando milhares de empregos diretos e indiretos e superlotando a rede hoteleira, como apontou uma matéria divulgada em 17 de maio do corrente ano, no caderno de economia do site Uol. Como visto, somos uma cidade gigante economicamente e culturalmente.

Enxergar nosso futuro enquanto cidade perpassa uma agenda de governo. É onde entra a importância do plano diretor. Documento produzido no sentindo de apontar como o desenvolvimento deve acontecer, respeitando as características de cada município e ouvindo as pessoas. Tudo atendendo ao recomendado pelo Estatuto da Cidade [lei federal nº 10.257/2001] que orienta como os municípios brasileiros devem fazer sua política urbana. Não basta apenas falar em desenvolvimento, precisa-se dizer quais os caminhos seguir. Tratando-se de gestão que cuidou do futuro, dois ex-prefeitos merecem destaque: João Lyra Filho e Tony Gel. É claro que todos os ex-prefeitos de Caruaru, de Major João Salvador do Santos, primeiro prefeito eleito de Caruaru, a excelentíssima Sra. Prefeita atual, Raquel Lyra, tiveram papel importante na construção desta grande metrópole que somos hoje. Como vou desmerecer o trabalho daqueles que tanto contribuíram, como Anastácio Rodrigues por exemplo, homem probo e uma referência de como governar diante das adversidades. Ou mesmo José Queiroz, prefeito por quatro vezes e que por conta de seu tempo à frente da PMC, entregou muitas obras ao povo caruaruense.

No entanto, merecem destaque no meu ponto de vista duas figuras importantes no cenário político local, João Lyra Filho e Tony Gel. Neste conjunto de recentes ex-prefeitos, ambos merecem destaque por enxergarem a cidade com potencial de progresso e não hesitaram, foram além e criaram um plano diretor. João Lyra Filho quando assumiu o governo municipal em 1959, tratou logo de cuidar dessa agenda. Já Tony Gel, assumiu o governo municipal e já começou a tratar sobre o assunto e a confeccionar o documento com seus auxiliares, secretários e sociedade civil. O resultado foi a entrega de um bom plano diretor e que infelizmente ainda não foi atualizado. Como precisa ser revisado e atualizado a cada 10 anos, um novo plano diretor já deveria ter sido entregue desde 2014.

A gestão do município que assumiu em 2017, começou algumas modificações, mas nada é divulgado. Ninguém tem informações como anda a confecção do novo plano, nem se membros da sociedade civil estão colaborando, se estão acontecendo planárias para discutir o tema, enfim, ninguém sabe de nada. O silêncio por parte da Prefeitura de Caruaru é ensurdecedor. Caruaru precisa ter rumo, não podemos caminhar no escuro. Um plano de mobilidade urbana precisa ser discutido para sabermos por exemplo, o que fazer com a Rua Duque de Caxias, calçadão ou corredor de ônibus? Como melhorar nosso trânsito, alargamento de vias ou abertura de novas vias? Anel viário, uma importante obra viária de nossa cidade, será concluída em sua concepção inicial? Mas não é só mobilidade urbana, precisamos saber também qual o plano para o desenvolvimento econômico? Qual a política de atração de novas industrias e empresas? Quais políticas de fortalecimento de nossa cultura? Quais políticas de turismo? Qual o futuro das nossas feiras? Feira da Sulanca fica ou sai do local onde está hoje? Qual o plano para a educação pública para as próximas décadas? Anexos de escola até quando? Qual política de Saúde Pública para os próximos anos? Quais os impactos ambientais do nosso crescimento? Quais as políticas de reparação ambiental? Nosso Rio Ipojuca, o terceiro mais poluído do país, qual seu futuro? São muitas perguntas, mas o teor delas é um apenas um: nosso futuro.

O romancista britânico Charles Lutwidge Dodgson popularmente conhecido por Lewis Carroll, diz em sua obra “Alice no país das maravilhas” que ao se vê perdida, Alice encontra um gato numa árvore e pergunta ao gato para onde aquela estrada vai. Por sua vez, o gato pergunta para aonde ela quer ir. Sem rumo, ela responde que está perdida. E o gato responde: “para quem não sabe para aonde vai, qualquer caminho serve”. Pois é meus amigos, inspirado na obra supracitada, pergunto a gestão municipal para aonde caminharemos? Espero que a gestão de Caruaru não esteja perdida, pois qualquer caminho não nos serve.

Jefferson Paz graduado em Administração Pública.

Américo Rodrigo

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