
Primeira mulher eleita para governar Pernambuco, Raquel Lyra (PSD) chegou ao posto mais alto acompanhada de Priscila Krause (PSD), alcançando o feito inédito no país, com duas mulheres no comando de um estado. Durante toda a sua campanha e ao longo dos últimos anos de governo, Raquel vem intensificando o discurso de fortalecimento das mulheres, com diversas ações voltadas para o público feminino, a exemplo dos programas Mães de Pernambuco e Morar Bem.
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Ao ser alvo de críticas, a governadora e aliados reforçam o discurso de que opositores não estão acostumados com mulheres em espaços de poder e cometem violência política de gênero. O que ocorre, na realidade, é que sempre que tem a oportunidade de demonstrar, na prática, que as mulheres devem estar nesses espaços, a governadora se molda à sociedade patriarcal que historicamente eleva homens a esses lugares.
Em 2023, Raquel Lyra iniciou o governo com o maior número de mulheres ocupando o primeiro escalão na história do estado. Eram 13, representando praticamente metade do total de 27 chefes de secretariado. De lá para cá, entretanto, a equidade de gênero foi se dissolvendo em meio a readequações e acordos políticos, fazendo com que apenas 10 mulheres estejam no comando das 30 pastas que existem atualmente.
Mais recentemente, outro fato que chamou atenção envolveu o Poder Judiciário de Pernambuco, composto por 58 desembargadores, mas apenas quatro mulheres. Nas duas oportunidades em que pôde indicar nomes para o TJPE, Raquel também optou por homens, mesmo havendo três mulheres nas listas tríplices enviadas pelo MPPE e pela OAB-PE.
A primeira tinha dois homens e uma mulher. Já a segunda foi ainda mais polêmica, com duas mulheres e um homem: Adriana Caribé, Carlos Gil e Diana Câmara. Mesmo os dois últimos obtendo o mesmo número de votos, Gil foi o escolhido.
Neste sábado (15), a governadora compartilhou a história da jovem Adriele Ketili, ressaltando o orgulho de ter a primeira mulher atuando como garçonete no Palácio do Campo das Princesas.
“Como primeira governadora do nosso Estado, fico muito feliz em ver mais mulheres conquistando espaços e inspirando outras a sonhar alto. Cada passo nosso abre caminho para muitas outras. Por aqui, sigo acompanhando Ketili e tantas outras pernambucanas que provam que lugar de mulher é onde ela quiser”, escreveu na legenda.
Sem desmerecer o cargo da nova servidora, que deve sim ser celebrado, é importante lembrar que as funções de “servir e cuidar” no Brasil já são predominantemente exercidas por mulheres (empregadas domésticas, diaristas, cuidadoras, garçonetes, cozinheiras), sendo a maioria delas negras, conforme apontado pelo IBGE.
Mesmo com o mérito de ter se tornado delegada da Polícia Federal e procuradora do Estado, Raquel Lyra está numa posição de privilégio como pessoa autodeclarada branca, nascida numa família com recursos, o que lhe proporcionou condições sociais e financeiras para alcançar seus objetivos. A imagem de Raquel sorridente ao lado da jovem evidencia o contraste entre discurso e prática, considerando recortes sociais e raciais.
É preciso, sim, incentivar a independência financeira feminina, e não há qualquer demérito em servir café e água para autoridades, muito pelo contrário! Mas é fundamental que a governadora também dedique esforços para que mais mulheres estejam no seu mesmo patamar, ocupando posições de poder, e não apenas funções consideradas socialmente subalternas.











